Em 1492, Colombo “descobriu” as Américas. Uso aspas aqui porque, particularmente, acho incorreto usar o termo descobriu – afinal já tinha muita gente vivendo por aqui. As populações indígenas nativas estavam espalhadas por toda a América, onde desenvolviam seu cotidiano que incluía a derrubada de partes da floresta para plantar alimentos e desenvolver sua agricultura (nada comparado às nossas monoculturas). Mas aí os europeus chegaram e com eles, as populações nativas começaram a desaparecer.
Os indígenas morriam por diversos motivos, incluindo guerras tentando defender seus territórios dos colonizadores; por serem capturados e escravizados; e por fome devido a desintegração de suas sociedades. Mas a principal causa das mortes foi a introdução de diversas doenças causadas por vírus e bactérias vindos da Europa, África (pois trouxeram escravos africanos com eles) e muitas zoonoses, ou seja, doenças transmitidas por animais (nesse caso, os animais de fazenda como porcos, vacas e galinhas).
Como os indígenas nunca tinham tido contato com os microorganismos causadores das doenças, eles não tinham o sistema imune para lidar com isso (até porque não existia nenhum sistema de vacinação indígena para preparar eles para isso). Em poucos anos, as populações foram dizimadas por doenças como gripe, catapora, sarampo, peste bubônica, malária e cólera.
Só entre 1492 e 1600 cerca de 90% das populações nativas morreram. Cerca de 55 milhões de pessoas.
Todas essas pessoas utilizavam o solo, derrubando a floresta para desenvolver sua agricultura, ocupando um total de cerca de 56 milhões de hectares (se somássemos tudo, seria aproximadamente o tamanho da Bahia). Essa área foi totalmente abandonada, pois ninguém mais mantinha a região desmatada. Então a natureza começou a se recuperar naturalmente, formando novas florestas.
Essa nova vegetação começou a absorver gás carbônico da atmosfera, pois as plantas precisam de carbono para crescer. E o carbono é um dos gases do efeito estufa, o que significa que ele ajuda a reter o calor do sol dentro da atmosfera do nosso planeta. Com tanta árvore nova crescendo, muito carbono foi capturado, então menos gases do efeito estufa estavam disponíveis, e menos calor ficava retido. Isso causou um resfriamento global!
O frio foi tão intenso que o Rio Tâmisa em Londres congelou (e isso é muito raro) e a agricultura européia sofreu fortemente com geadas e neve, causando fome em diversos países. Esse resfriamento continuou até o início da Revolução Industrial, quando os níveis de poluição aumentaram vertiginosamente, assim como o carbono atmosférico, aumentando a retenção de calor e consequentemente, a temperatura do planeta.
Essa história toda serve de alerta. Nós humanos tivemos o poder de mudar a temperatura globalmente apenas abandonando regiões de agricultura que se regeneraram naturalmente. Hoje a situação é inversa, e a temperatura global tem aumentado vertiginosamente nos últimos anos, levando a diversos problemas climáticos e de saúde pública. É hora de nos atentarmos a isso e investir no uso inteligente do espaço e reflorestamento de áreas estratégicas, ou então, teremos que arcar com as consequências.
Quer ler o artigo científico que originou esse post? Earth system impacts of the European arrival and Great Dying in the Americas after 1492 (Koch e colaboradores, 2019)