Primeiro, foi pejorativa. Uma “república das bananas” tratava-se de um país pobre e governado por um ditador. Depois, Alberto Ribeiro e Braguinha (ou João de Barro) em 1938 compôs: “Yes, nós temos bananas!”, uma marchinha de carnaval misturando sátira e ufanismo, uma resposta ao “desejo” americano de nos lisonjear (a nós e a todas as nações latino-americanas) com aquela prendada expressão.
Banana é um fruto. Verdadeiro (“botanicamente falando”). Trata-se do ovário desenvolvido da flor da bananeira. É uma pseudobaga. Baga é um fruto carnoso com muitas sementes. Mas ela é uma falsa baga. Sabe aqueles pontos pretos dentro da banana? Deveriam ser sementes. Mas não são. São óvulos abortados, não fecundados. A bananeira não produz sementes. A banana é um fracasso.
Dizem que a banana vai sumir em dez anos. Quem lhe disse? Onde foi a cartomante? Existe um fungo ascomiceto do gênero Fusarium que ameaça a colheita mundial dos bananeiros (os indianos, em primeiro lugar). Esse gênero de fungo é perverso. Tem espécies que atacam unhas e córneas humanas. Tem espécies que atacam a batata, o tomate e a pimenta. Outras atacam bananas. Uma epidemia internacional vem assustando os produtores que, pessimistas, já admitem que possam ver o seu ganha-pão virar um boa lembrança da aurora de suas vidas, da minha infância querida que os tempos não trazem mais (Gonçalves Dias, não é isso?). É possível.
Não há nada a fazer?
A banana é sui generis. O que o povo acha que é o caule da bananeira é falso. É um pseudocaule, feito na verdade de folhas. O caule verdadeiro está escondido, debaixo da terra: é um rizoma. O rizoma é importante para a sobrevivência das bananeiras: é dele que são obtidas as mudas para a reprodução vegetativa. Sem sementes, a reprodução sexuada não ocorre para as bananas. É feita estritamente com mudas. Assim, sem a possibilidade de recombinar seus genes com outros membros de sua espécie, o jeito é ser refém da espontaneidade das mutações. É pouco. Os fungos são mais rápidos. Para promover mudanças, estratégias estão sendo testadas. Alguns pesquisadores tentam cruzá-las (as bananeiras) com espécies aparentadas. É uma medida quase desesperada para gerar alguém que resista ao causador do mal-do-panamá, a doença do Fusarium.
Um mundo sem banana. O Brasil é o segundo produtor mundial e isso traria certamente impactos para a nossa economia. A banana é o quarto produto agrícola mais consumido no planeta (depois do arroz, milho e trigo). Tem vitaminas A (evita cegueira noturna e xeroftalmia), B6 (a piridoxina evita dermatite e problemas de crescimento) e C (anti-escorbuto), além de potássio (evita cãibras?). É rica em amido e frutose (energia!). Tem gosto agradável e vai bem em muitas receitas. Fico pensando… o que será do mundo sem a banana?
O biopaternalismo humano levou a essa situação. Proibimos a evolução das bananas mas não controlamos a evolução de outras espécies (ainda bem!). Alheias ao que acontece, novas formas de fungos, nematoides, brocas e ervas daninhas invadem os bananais (e outras lavouras) que são feitos de indivíduos que não mudam, são previsíveis, são bananas (que belo trocadilho…). O resultado?
Graças à humanidade, evolutivamente, a banana é um fracasso.