Estamos em meio à pandemia do COVID-19, e as perspectivas são alarmantes. Sem vacina, sem remédio, e com o isolamento social sendo cada vez mais deixado de lado pelo povo brasileiro, não há nem sinal de que vá haver uma estabilização da curva de contágio num futuro próximo. Isso, somado à crise política instaurada e a crise economica que já começa a dar as caras, torna o futuro do Brasil bastante sombrio e incerto. E eu não trago boas notícias… Existe mais duas crises em curso: A crise ambiental e a crise climática.
A primeira é causada pela ganância e pela prepotência do homem em achar que é dono do mundo. A história da humanidade se pauta na lógica de que o meio ambiente existe para nosso bel prazer, e que nós podemos explorar seus recursos de maneira ilimitada – Mas não é bem assim. Com cerca de 7,6 bilhões de pessoas no mundo, o meio ambiente fica sempre de lado quando o assunto é sobrevivência humana, mas isso porque dissociamos o homem da natureza. Desmatamento, queimadas, lixo, poluição, exploração, isso tudo substitui o cuidado com o meio em que vivemos, o respeito à natureza e aos organismos que coexistem conosco no mundo.
A segunda crise, a climática, é consequência da primeira. Desde a revolução industrial, toneladas de gases tóxicos foram lançados na atmosfera, potencializando o chamado “efeito estufa” ao impedir que o calor proveniente dos raios solares se dissipe na atmosfera. Esse calor fica então concentrado, levando ao aumento da temperatura média do planeta. Isso tem consequências drásticas para a vida na Terra, pois com o aumento da temperatura, há também um desequilíbrio no regime de chuvas, degelo das calotas polares, aumento no nivel do mar, entre outros. Tais mudanças – as chamadas mudanças climáticas, já podem ser observadas ao redor do mundo, e as previsões para um futuro próximo são bastante preocupantes.
Mas o que isso tem a ver com a pandemia? Tudo. Cerca de 75% das doenças que surgiram nos últimos 50 anos tiveram origem animal. Seja através do comércio ilegal, da caça/alimentação ou da destruição de habitat, está cada vez mais comum ver animais silvestres coexistindo com seres humanos fora de seu ambiente natural. Essa interação forçada tem potencial de representar um grande risco ao ser humano, uma vez que muitas vezes o animal silvestre pode ser o hospedeiro de doenças desconhecidas que podem vir a tomar proporções globais, como no caso da COVID-19.
Num cenário de mudanças climáticas, isso é ainda mais problemático: além do desmatamento e destruição do habitat, estamos mudando o sistema climático da Terra. Áreas congeladas há milhares ou milhões de anos estão derretendo, e assim novos vírus estão sendo descongelados. Não se sabe o poder de ação desses vírus, mas a ameaça existe e é iminente! Para além de novos virus, temos ainda o aumento da propagação de doenças já existentes. Sabemos por exemplo que o Aedes aegypti, mosquito vetor da Dengue, Chikungunya e zica, se reproduz fácil em ambientes quentes e úmidos. Logo, com o aumento da temperatura causado pelas mudanças climáticas, é possível que este vetor (e muitos outros) consiga se espalhar cada vez mais.
A pandemia da COVID-19 é, acima de tudo, um alerta. Precisamos repensar a forma como nos relacionamos com o meio ambiente, os nossos padrões de consumo, as nossas ações diárias. Precisamos repensar nossas prioridades, nossas relações interpessoais, nossas escolhas políticas.
E precisamos, mais do que nunca, entender que não há sobrevivência humana sem preservação da natureza. Porque nós somos parte da natureza, e portanto nós dependemos dela para nos manter vivos.